45% dos brasileiros não controlam as próprias finanças, mostra pesquisa sobre educação financeira do SPC Brasil e CNDL

31% dos consumidores são inseguros para lidar com dinheiro e 34% deixam de cuidar das finanças por indisciplina. Em vez juntar dinheiro e comprar à vista, 45% optam por parcelar. SPC Brasil lança aplicativo com dicas para melhorar gestão do orçamento

Planejar as despesas da casa, organizar o orçamento de acordo com a receita disponível e não exagerar nas compras impulsivas. O brasileiro até sabe o que precisa ser feito, mas nem sempre coloca a teoria em prática. Um estudo realizado em todas as capitais pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revela que 45% dos brasileiros admitem não fazer um controle efetivo do próprio orçamento, percentual que sobe para 48% entre as pessoas das classes C/D/E e para 51% entre os homens. Entre os que fazem uma administração precária do orçamento, 21% confiam na própria memória para gerir os recursos financeiros.

Os que fazem um controle de fato do orçamento somam 55% dos consumidores, sendo o caderno de anotações (28%), a planilha em Excel (18%) e aplicativos no celular (9%) as práticas mais adotadas. Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, a disciplina é parte fundamental para uma vida financeira saudável. “Foco e esforço são essenciais para se alcançar uma vida financeira equilibrada. Não importa a ferramenta utilizada para anotar os gastos, importa que o método seja organizado. Algumas pessoas têm facilidade com planilhas ou aplicativos, outras preferem o velho caderninho de anotações. O importante é anotar e principalmente analisar os registros, de forma que o consumidor identifique onde há sobras e onde o orçamento deve ser ajustado”, aconselha a economista.

O levantamento ainda revela que a maior parte dos consumidores brasileiros garante ser autodidata nos conhecimentos para gerir o próprio dinheiro: entre aqueles que acreditam ter um bom grau de conhecimento para gerenciar suas finanças pessoas, 45% aprenderem sozinhos, enquanto 34% tiveram ensinamentos desde cedo com a própria família. Os que aprenderam a gerenciar as finanças com o marido ou esposa são 14%, enquanto 9% fizeram um curso e 6% recorreram a algum especialista.

De modo geral, 51% dos consumidores avaliam ter um grau ótimo ou bom para gerenciar seu dinheiro e 48% consideram esse conhecimento ruim ou regular. Além disso, três em cada dez (31%) brasileiros admitem insegurança para gerenciar o próprio dinheiro, contra 46% que se consideram seguros. Outros 23% mostram-se indiferentes.

Mesmo entre os que controlam orçamento, 59% sentem dificuldades na tarefa; falta de disciplina é o maior vilão dos que não têm educação financeira

De acordo com a pesquisa, em cada dez consumidores que controlam seu orçamento, seis (59%) sentem alguma dificuldade ao executar essa tarefa, sendo as principais queixas a falta de disciplina em anotar os gastos e rendimentos com regularidade (26%), a falta de tempo (12%), a dificuldade em encontrar um mecanismo simples de controle (11%) e a dificuldade em fazer cálculos (5%). Os que não sentem dificuldades somam 41% da amostra.

A falta de disciplina também é a principal justificativa para aqueles que não controlam o próprio orçamento, com 34% de menções. Outros 15% não veem necessidade em registrar gastos, fazendo as contas apenas de cabeça, enquanto 11% justificam o fato de terem uma renda que varia de um mês para o outro. Há ainda 10% que admitem preguiça e 10% que não sabem como fazer.

Consumidor anota despesas básicas da casa, mas se descuida das pequenas compras; 57% não planejam o mês com antecedência

Entre aqueles consumidores que fazem um controle adequado do seu orçamento, os gastos de primeira necessidade e de valores mais elevados são os que recebem um tratamento mais cuidadoso. A pesquisa aponta que 92% anotam despesas básicas, como mantimentos, produtos de higiene, mensalidades escolares e contas da casa como água, luz, condomínio e aluguel. O mesmo percentual de 92% também anota as prestações contraídas no carnê, crediário e cartão de crédito que vencem nos meses seguintes. Outros 85% sempre anotam os rendimentos, como salários, pensões e aposentadorias.

Entretanto, o controle dos pequenos gastos cotidianos e compras não planejadas ainda são deixadas de lado por parte expressiva dos entrevistados. O dinheiro que poupam dos salários ou investem (24% que não controlam), gastos esporádicos com lazer e beleza (30% que não controlam) e pequenos gastos do dia a dia, como estacionamento, despesas com taxi e com idas para bares e restaurantes, por exemplo (36% que não controlam), ficaram nos últimos lugares do ranking das principais anotações.

No momento de lidar com o controle dos gastos mensais, os perfis dos brasileiros que controlam seu orçamento se dividem: enquanto 43% planejam o mês com antecedência, anotando os rendimentos e o que esperam gastar, outros 35% preferem anotar os gastos no decorrer do mês, verificando posteriormente como ficou o orçamento. Os que só anotam os gastos depois que o mês termina somam 21% da amostra, percentual que sobe para 25% entre os consumidores da classe C.

“Anotar as despesas no fim do mês é um grande risco, pois não há um controle real do quanto se gasta. Quando chega a hora de fazer as contas, pode ser que o consumidor tenha ultrapassado o limite do orçamento, ficando no vermelho. Uma boa estratégia para evitar que isso aconteça é reservar uma quantia fixa todo mês para as compras menores e respeitar esse limite. Mas, para isso, o planejamento das contas deve ser feito no início do mês”, diz o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli.

69% pechincham na hora das compras, mas 45% costumam parcelar em vez de juntar dinheiro para comprar à vista

De acordo com a pesquisa, 84% dos consumidores têm o hábito de fazer pesquisa de preço e 69% costumam pechinchar em busca de valores mais em conta. Mas uma das principais dificuldades do brasileiro é se esforçar para adquirir algum bem a vista: 45% admitem não ter o hábito de juntar dinheiro para realizar uma compra de valor mais elevado à vista, optando na maior parte das vezes pelo parcelamento. A falta de paciência para esperar a quantia ser alcançada com o tempo (51%) é o principal motivo para quem nunca faz esse esforço.

77% passaram situação de aperto financeiro em 2017; corte em supermercados, lazer, beleza e pacotes de TV e internet foram alguns dos ajustes

A pesquisa ainda revela que em cada dez brasileiros, oito (77%) passaram por alguma situação ao longo de 2017 em que o orçamento não foi o suficiente para fechar as contas do mês. O percentual cresce para 87% entre os consumidores que têm entre 35 e 49 anos.

Para quem vivenciou a situação de aperto, 40% mudaram hábitos de consumo, passando a comprar coisas mais baratas e fazer pesquisa de preço. Três em cada dez (29%) entrevistados fizeram cortes no orçamento, principalmente nos itens de supermercado, salões de beleza e saídas para bares e restaurantes. Outras adequações que o momento de dificuldade impôs ao brasileiro foi parar de comprar roupas e sapatos (20%), sacar dinheiro de uma reserva que possuíam (16%) e reduzir pacotes de TV por assinatura, internet e celular (15%). Assumindo uma postura mais arriscada, 14% passaram a usar mais o cartão de crédito para cobrir despesas, outros 14% pediram dinheiro emprestado a amigos e familiares e 12% recorreram a empréstimos em bancos e financeiras.

SPC Brasil lança aplicativo que dá dicas de finanças pessoais

Com o propósito de orientar o brasileiro a melhorar a gestão do seu orçamento, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), lançou um aplicativo para celulares e tablets: É o “SPC Consumidor”. O aplicativo ajuda o internauta a fazer um diagnóstico sobre o seu bem-estar financeiro. Após o resultado, o consumidor passa a receber, periodicamente, dicas personalizadas para melhorar o seu desempenho com as finanças. O app está disponível gratuitamente para celulares Android e iOs.

Metodologia

Foram entrevistados 805 consumidores acima de 18 anos, de ambos os gêneros e de todas as classes sociais nas 27 capitais. A margem de erro é de no máximo 3,5 pontos percentuais para um intervalo de confiança a 95%.

Fonte: CNDL